quarta-feira, 30 de julho de 2008

Lisboa no Ano Três Mil



Cândido de Figueiredo. (2003). Lisboa no Ano Três Mil. Lisboa: Frenesi

Wikipédia: Cândido de Figueiredo
Frenesi

Este é um texto clássico, publicado orignalmente sob forma de folhetim no jornal Ocidente em finais do século XIX. Lisboa no Ano Três Mil parte com uma premissa de ficção científica: o jornalista, graças aos mistérios do hipnotismo, antevê um futuro longínquo através da mente de um sábio que pesquisa as ruínas da cidade das sete colinas. No futuro longínquo de Cândido de Figueiredo, as viagens aéreas são a norma, levadas a cabo em dragões de madeira e ferro (uma ideia muito cyberpunk). A Austrália é a nação dominante no mundo, o centro do saber, onde toda a costa era uma imensa cidade. No seu centro, uma luz do mundo: uma imensa biblioteca, onde o alter-ego futuro de Cândido de Figueiredo consulta as cartas de Terramarique, sábio explorador das regiões desérticas e em ruínas da europa.

Neste futuro distópico, a europa havia sido conquistada e arrasada por novas hordes mongóis ao serviço do império russo, que dominava as terras da àsia ao cabo espichel a partir das ruínas do Kremlin. E Terramarique, sábio australiano, explora as regiões isoladas do mundo com autorização do imperador que reside nas ruínas guardado por ursos.

Mais do que proto-romance de ficção científica, Lisboa no Ano Três Mil é uma boa desculpa para aquele passatempo tão português que é o escárnio e mal-dizer. Olhando o Portugal do século XIX dos tempos ficcionais em que já Portugal não existia, Cãndido de Oliveira traça um retrato ridicularizante dos vícios e poucas virtudes do país de fim de século, dos ridículos, do novo-riquismo, da parolice e da mesquinhês das classes políticas. O retrato é mordaz e sarcástico. E, na Lisboa do ano Dois Mil, as efabulações do sábio Terramarique pela voz de Cândido de Figueiredo ainda pintam um retrato apropriado da sociedade portuguesa.