segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Memória



Quando eu era menino a minha avó disse-me que um dia iria crescer, deixaria de ir à aldeia passar temporadas com ela e a iria esquecer. Disse-lhe que não, que nunca iria deixar de gostar de ir ter com ela à aldeia, onde podia brincar livremente por entre as videiras. Ouvi essas palavras numa quente manhã de agosto, há mais de vinte anos, no quartinho cuja janela dava para o laranjal.

Entretanto, a vida aconteceu. Por questões de família, deixei de visitar os meus avós na aldeia no vale rodeado de vinhedos. E fui, segui, vivi e trilhei os meus caminhos. Passaram anos. Quanto às palavras, quase as esqueci. Só hoje regressei, para dizer adeus. Sic transit mundi.

(Adelaide Gaio, 1918-2009. Requiem aeternam dona eis.)