segunda-feira, 11 de junho de 2012

Arc 1.2: Post Human Conditions


Pura nutrição cerebral. Criada pelos editores da New Scientist, a revista digital Arc já se distingue pela linha editorial cuidada que misturando ensaio e ficção reflecte sobre os futuros próximos e possíveis. A segunda edição olha para a condição pós humana reunindo artigos e contos intrigantes e provocadores. Pode ser adquirida aqui: Arc 1.2: Post huma conditions.

Artigos e ensaios:

The Future's Mine: Frederik Pohl fala-nos do regresso a futuros passados ao olhar para o enorme corpus literário da FC clássica como inspirador de padrões para prognósticos futuristas. Se as ideias ficaram datadas os padrões que delas emergem podem apontar caminhos para o futuro antevisto por think tanks.

Nobody Knows You're a Dog: Anne Galloway e Sumit Paul-Choudhury especulam sobre uma internet animalesca, extrapolando o gosto pela iconografia animal online para um futuro próximo em que os animais são nós informativos activos no mundo digital.

Petersburg's Prometheus: Sonia Versterholt e Simon Ings redescobrem um velho mestre do cinema de ficção científica soviética, ostracizado pelos seus pares mas fortemente influente na estética cinematográfica de obras como Alien, Terminator e o recente Prometheus. Distintos pela estética cuidada e paixão pela exploração espacial, os seus filmes ultrapassaram a cortina de ferro e foram paradoxalmente aproveitados por Roger Corman para filmes de série B.

Through The Space Desert: Regina Peldszus analisa a solidão das missões espaciais, focalizando-se nas experiências russas e europeias que simulam viagens a marte, histórias das estadias claustrofóbicas de astronautas em órbita e insights vindos da experiência de isolamento nas missões cientificas que se mantém nos longos invernos antárticos.

The Mudang's Dance: Gord Sellar analisa a moderna Coreia do Sul, olhando para a transformação de um país de sociedade tradicionalista ruralizada num paradigma de hipermodernidade económica e tecnológica, onde a evolução exterior quase instantânea encontra formas de se harmonizar com o tradicionalismo elitista arreigado numa cultura forçada a evoluir à velocidade da luz.

Built for Pleasure: ensaio de P. D. Smith que é um hino à cidade como espaço de encontros, diversidade, partilhas culturais, complexidade de engenharia e descobertas.

Adult Pursuits: Holly Gramazio fala-nos de jogo traçando paralelos com aprendizagem lúdica e uma cultura pós-televisiva que volta a colocar a tónica em actividades físicas que também envolvem o cerebral e o imaginativo.

Bad Vibrations: Kyle Munkittrick manifesta-se pelo entendimento do jogo digital como meio de expressão de pleno direito, com uma estética e formas próprias de abordar as questões para as quais as artes mais "tradicionais" sempre olharam.

Ficção:

Attenuation de Nick Harkaway mistura clonagem, viagens galácticas, teletransporte de consciência humana, ciúme e sede de vingança numa história em que um homem se vê transplantado para um corpo estranho e é obrigado a assassinar o seu corpo original para sobreviver.

The Man de Paul McAuley leva-nos a um futuro próximo pós-apocalíptico em que após a destruição das principais megalópoles mundiais num conflito nuclear a humanidade dispersa-se pelo espaço auxiliada por alienígenas. Sob este pano de fundo passa-se uma história onde num mundo distante uma terrestre exilada sobrevive recolhendo detritos tecnológicos nas ruínas de uma fábrica alienígena até encontrar um simulacro humano, androide silencioso que replica na perfeição um homem desaparecido há anos atrás.

Big Dave's In Love por T. D. Edge leva a um certo absurdo o colapso singularitário, num futuro onde após um apocalipse electro-plástico que trasnformou a superfície do planeta num oceano viscoso de interferências eléctricas os sobreviventes vivem isolados em paraísos artificiais, mantidos vivos por brinquedos inteligentes dedicados que à sua maneira desenvolvem uma espécie de alma.

Komodo: Jeff Vandermeer brinda-nos com um conto longo de elevado surrealismo, fortemente mergulhado na estética new weird que tanto e tão bem defende. Num voo puro de imaginação somos levados a conhecer realidades paralelas, metáforas de transiência, espécies alienígenas avançadas e criaturas predatórias que se movem nos espaços interdimensionais. Um conto que se lê como um longo sonho, por vezes atraente por vezes assustador, onde a lógica interna se sobrepõe às lógicas consensuais.