sábado, 2 de junho de 2012

Circus maximus

Ah, o futebol. Como ando entretido com coisas que me parecem mais interessantes estou totalmente abstraído de boa parte das notícias do dia a dia. Mas a realidade tem um jeito especial de invadir o meu mundo pessoal. Como, por exemplo, chegar a Lisboa e ao saltitar entre rádios enquanto navego no trânsito ouvir um coro de crianças a desafinar o hino nacional. Comemorações nacionalistas do dia mundial da criança, pensei, até ser anunciado pelo excitado locutor que se tratava da recepção de despedida da selecção nacional em Óbidos. Logo de seguida passa um hino à selecção, uma versão de um clássico dos Peste e Sida dos anos oitenta com o refrão chuta ronaldo em vez do original chuta cavalo. Fiquei estupefacto. Até porque nas brumas da minha memória recordo cavalo como calão para um tipo específico de estupefaciente altamente danoso. Mas é futebol, ópio de massas, à sua maneira também um estupefaciente.

E hoje uma reportagem televisiva sobre o mesmo assunto, com o habitual folclore mas cantores luso-pimbas importados de França no lugar dos meninos canoros do hino. Celebrar os possíveis triunfos da nação no rectângulo verde com o menor denominador comum musical. Percebe-se. O circo para as massas tem que ser estridente e com o seu quê de foleiro. E o futebol é a possível expressão moderna do nacionalismo exacerbado. Se virmos turbas ululantes de bandeiras em punho a percorrer as ruas não ficamos preocupados porque estão a torcer pela selecção. Os jogadores são os novos cavaleiros, a defender a honra e as cores da dama nacional no campo de batalha relvado. Pois. Plus ça change...

Certo, estou a torcer o nariz do alto do meu pedestal de literaturas de género, cinema, pensamento e investigações nas virtualidades contemporâneas. Decididamente o circo máximo não é lugar para mim. Para quem gosta... bem, sejam felizes. Pelo menos este ano não temos que levar com a chinfrineira das vuvuzelas, instrumento que faz um buzinão soar a orquestra bem dirigida.