quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Comics


The End Times of Bran and Ben #01: Uma proposta arriscada, a gozar abertamente com os fundamentalistas cristãos e os seus delírios de arrebatamento, algo que tem um mercado muito próprio e lucrativo nos estados unidos (vide Left Behind e os seus clones com danos no adn). A primeira edição pontuou pelo bom humor no argumento e no traço. Resumo rápido: Bram, confesso pecador irredimível, é arrebatado devido a um erro burocrático para os céus junto com os verdadeiros merecedores do apocalipse divino cristão. É devolvido a uma terra onde o desaparecimento de uma parte significativa da população mundial não desperta tristezas por aí além, talvez pelo carácter intrinsecamente entediante dos bons cristãos. Ben, o bom amigo de Bram e uma boa pessoa na generalidade, debate-se com a dúvida de "se sou bom afinal porque é que não fui escolhido para ir para o paraíso" enquanto Bram inventa esquemas progressivamente mais arrojados de tirar partido do fim dos tempos. O arranque foi interessante, mas um comic destes pode seguir um de dois caminhos: o da piada fácil e ofensiva ou a critica mordaz bem humorada. O tom leve deste primeiro número do comic não ajuda a perceber por onde irá.


2000AD #1814: O poder de uma boa ilustração. O argumentista Ian Edgington assina para o comic britânico três séries criticamente aclamadas, mas confesso que uma me é ilegível pela sua ilustração. Já sublinhei a beleza delicada de Brass Sun, muito bem ilustrada por I.N.J. Culbard. Ampney Crucis é uma anacrónica e deliciosa mistura de terror com policial clássico, com um aristocrata detective amador do oculto que junto com o fiel mordomo se vê mergulhado em aventuras positivamente lovecraftianas destaca-se pela boa estranheza e pelo traço intrigante de Simon Davis. Já Red Seas... a ilustração a preto e branco onde o branco impera e invade as vinhetas afasta-me cada vez mais da série.


Dial H #08: Com o alinhamento DC'52 em decadência alastrante, a reverter para as velhas fórmulas e a deixar de lado quaisquer variações de argumento que se mantenham interessantes, numa clara aposta da DC no público infanto-juvenil a seguir as pisadas da Marvel, são cada vez mais raros os títulos interessantes. Já nem a Vertigo, em extinção anunciada, se safa. Resta este anacrónico Dial H de China Miéville, uma sempre curiosa experiência de surrealismo fantástico new weird aplicada aos comics de mercado.


Think Tank Military Dossier #01: Think Tank foi uma brincadeira divertida com a militarização da ciência e tecnologia às voltas com as tentativas de um génio a fugir às garras dos controladores da DARPA. Este intermezzo arranca com uma vinheta que, cortesia do inconsciente colectivo, recorda uma das conversas da última sessão do clube de literatura fantástica onde Luís Filipe Silva nos provocou com a ideia de quais as obras da literatura contemporânea se tornarão os clássicos literários no futuro. Curiosamente, a saga twilight foi aflorada, até porque o historial mostra que boa parte das obras criticamente aclamadas não se torna clássica. Ainda com essas reflexões na mente deparo com a primeira vinheta deste Think Tank...


The Secret Sevice #05: Um comic simplista de Mark Millar que mostra a ascensão de um rufia comum à elegância de agente secreto graças a um tio que faz James Bond parecer um selvagem incivilizado. Também tem outra linha narrativa em que um milionário megalómano quer aniquilar grande parte da humanidade com uma simples mudança de frequências nas ondas rádio das telecomunicações e rapta actores e realizadores de filmes de ficção científica para os proteger do apocalipse genocida. Parece mais interessante do que realmente é, com um argumento que vai indo em solavancos previsíveis. Fica-se com uma desculpa para ver o traço preciso de Dave Gibbons, apesar de não parecer que se esteja a esforçar muito nesta série. Parece que a ideia é fazer daqui um filme e já devem estar a pensar nos ajustes milionários à conta bancária trazida por mais uma convergência mediática...


Stormwatch #16: Exemplo típico da decadência da DC. Pete Milligan assassina a criação de Warren Ellis adquirida pela DC com uma linha narrativa simplista que reverte para o velho artifício das lutas internas entre os heróis causadas por óbvios mal entendidos. Ao longo de páginas e páginas. Sem que se descortine fim à vista, ou outras linhas narrativas mais intrigantes. Que tédio.