quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

The Dueling Machine



Ben Bova (1984). The Dueling Machine. Nova Iorque: Berkley.

The Dueling Machine é um conto de Ben Bova que nos dá um cozinhado familiar dos ingredientes icónicos da ficção científica do género space opera na golden age. Num futuro distante, com a humanidade espalhada pela galáxica, cabe à frota espacial a manutenção da paz entre as colónias. Apesar de temida e poderosa, não chega em tempo útil aos recantos mais distantes da galáxia. Num desses recantos um tirano local, decalcado de Hitler, procura anexar os sistemas estelares próximos utilizando subterfúgios políticos que envolvem a morte misteriosa dos seus oponentes. A tarefa de o enfrentar recai sobre um cientista e o seu ajudante, oficial desastrado da guarda estelar que acaba por se revelar um herói de argúcia assinalável e, como não podia deixar de ser, de ficar com a rapariga que representa o elemento interesse romântico do conto.

Esta fábula de política interstelar inspira-se directamente na ascensão nazi imediatamente antes da II guerra mundial, com a anexação por via política de territórios com a complacência apaziguadora das potências da época. Deu no que deu. Bova não vai tão longe, fica-se apenas pela intriguice de um ditador fascista que utiliza as armas da democracia para a derrubar e conquistar.

O que destaca este conto de tantos similares da época é a máquina que dá nome ao conto. A máquina de duelos foi criada pelo cientista da história para possibilitar uma forma não letal de resolver contendas de honra. Em vez de se defrontarem nos campos de batalha ou nas matas ao nascer do sol os duelistas enfrentam-se ligando-se a uma máquina que os coloca numa alucinação consensual. No seu interior é recriado um ambiente realista, onde se travam combates individuais sem que haja derramamento de sangue.

Inesperadamente, sem que se trate de um percursor literário do digital, cibernética ou ciberespaço Bova dá-nos aquilo que é uma excelente descrição de um equipamento de realidade virtual, muitos anos antes dos primeiros sistemas de RV serem criados como uma mistura de computadores, dispositivos de interface e ambientes virtuais tridimensionais.

Visto pelo prisma dos futuros sistemas de realidade virtual este conto parece antever o que seria um equipamento destes. Publicado na Analog em 1963, o conto é contemporâneo das experiências de Ivan Sutherland no desenvolvimento do sistema Damocles e não parece impossível que Bova não estivesse a par do Sensorama de Heilig ou dos sistemas de simulação de voo desenvolvidos Edwin Link. A máquina de Bova mergulha os utilizadores numa realidade cerebral, mas o como nunca nos é explicado. Talvez na imaginação do escritor esta seja uma versão futurista do Sensorama, a máquina de Morton Heilig que recorrendo a gravações de som e filme em espaços fechados simulava realidades, embora de forma limitada. The Dueling Machine, intencionalmente ou não, junta-se à galeria de ficções percursoras de tecnologia futura. O conto pode ser lido em diversos formatos de livro electrónico no Projecto Gutenberg.