segunda-feira, 18 de março de 2013

It Was The War Of The Trenches



Jacques Tardi (2010). It Was The War Of The Trenches. Seattle: Fantagraphics Books.

Não há honra valorosa ou coragem patriótica nesta visão sombria da I guerra mundial. O traço impiedoso de Tardi não poupa o leitor com a exposição à violência inútil da guerra nas trincheiras. Este livro faz-se de histórias banais, de mortes sem sentido, da inutilidade do medo e do sentir-se pequeno, peça de maquinarias infernais, pedaço animado de carne para canhão, um na maré de homens que se abrigam das bombas e sabem que a vida pode terminar com o próximo apito a ordenar a subida das trincheiras e o enfrentar das balas inimigas na terra de ninguém. As histórias não são as dos generais e suas tácticas, ou das acrobacias mortais dos pilotos nas máquinas voadoras. Tardi olha para os poilus, os soldados franceses que combateram, morreram, ficaram mutilados ou estropiados em nome de valores que se desvaneceram com o passar dos anos. Algo que é demonstrado nas sequências finais em que o olhar do desenhador se vira para as tropas coloniais, para os argelinos, senegaleses ou vietnamitas chamados a morrer por uma pátria que não era sua e que pouca décadas depois estavam a libertar-se do jugo colonial.







Esta não é a guerra fria dos dados para os livros de história. Não é a guerra valorosa dos sentimentos patrióticos, do deslumbre pela virilidade combatente, pelos valores marciais que procuram disfarçar a violência bruta. É a guerra dos que foram arrastados, das massas humanas que emergiam da lama para enfrentar as barragens de artilharia e as metralhadoras ceifadoras de vida à escala industrial. Traços de Celine, Erich Maria Remarque ou Le Grand Jeu de Renoir atravessam esta obra profundamente tocante, inspirado no melhor do cinema e literatura sobre o parto sangrento do século XX nas trincheiras, este livro surpreende, encanta, entristece e deslumbra pela sua precisão gráfica.