segunda-feira, 3 de março de 2014

Comics


100 Bullets Brother Lono #08: Azarello termina esta mini-série da Vertigo num assumido estilo grindhouse. O final é uma orgia de tiros e violência gratuita ao qual o estilo apurado de Eduardo Risso dá um carácter de estilização icónica. Em comics mainstream isto talvez seja o mais próximo que se chegue dos abusos visuais ao estilo de cineastas como Tarantino e os seus seguidores. Note-se que falei em mainstream. Olhem para a Image ou para a Avatar Press e o caso muda de figura.


2000AD #1870: Normalmente destaco o classicismo de Dredd ou as bizarrias tão à inglesa deste comic, mas não posso deixar de notar que com muita discrição Dan Abnett tem sabido manter uma das melhores e mais coerentes séries de ficção científica no género. Sem grandes adereços, hipérboles cósmicas ou aventuras no espaço. Grey Area é FC em estado puro e um elegante comentário à sociedade contemporânea obcecada por vigilância. E sim, o futuro é cinzento. Neste futuro a descoberta de vida alienígena inteligente não se traduziu na invasão da Terra ou na supremacia humana dos sonhos habituais de FC. Pelo contrário. O planeta torna-se destino de passagem ou abrigo para centenas de espécies extra-terrestres que vêm cá para fazer turismo, negócios ou procurar um porto seguro para perseguições. Perante as dificuldades os governos terrestres designaram uma área especial como zona de recepção a alienígenas. Uma zona cinzenta, um transpor para FC das zonas de fronteira onde se acumulam refugiados e imigrantes ilegais, com estranhos costumes alienígenas a sublinhar a metáfora das clivagens culturais entre o primeiro e o terceiro mundo. Grey Area não é agradável e os serviços de imigração não são simpáticos. O acolhimento é neutro mas militarizado e desvios às normas são tratados com extremo prejuízo. Acompanhamos um pelotão de agentes de segurança que têm a pouco invejável tarefa de intervir sempre que algo corre mal. Oportunidades não faltam.


The Manhattan Projects #18: Hickman começa a soar algo repetitivo nesta série que talvez se esteja a alongar mais do que o desejável. A grandiosidade de visão e o psicadelismo das primeiras edições ficou para trás e o rumo segue num tom muito morno. Não que não tenha os seus momentos de bizarria extrema, e a evolução narrativa continua prometedora. Não deixa de ser uma das mais intrigantes e divertidas séries actualmente publicadas, mas está a passar por uma fase morna. Talvez o argumentista esteja a canalizar as suas energias para o pujante weird western que é East of West.


Three #05: Não há finais felizes nem redenções no final desta série brilhante. Gillen retrata com precisão o ideário espartano nesta aventura de sobrevivência de hilotas rebeldes face aos seus implacáveis senhores mas o final não trás a libertação que se poderia esperar. E, no fundo, não é isso o mais importante. As areias da história tudo cobrem, até os mais aguerridos patriotas.


Vandroid #01: Era suposto ser um daqueles inenarráveis filmes de série B dos anos 80 mas um incêndio reduziu o trabalho a cinzas. Ainda bem. Se tivesse realmente sido filmado não passaria de mais uma obra de FC fílmica banal e mal conseguida que seria notável, como tantos outros filmes desta igualha, por alguns cartazes ou imagens icónicas de homens-máquina. Tal como está foi recuperado como argumento de comics onde... não é muito diferente. Tem a sua piada como lufada de ar nostálgico dos anos 80, com uma história à volta de uma inteligência artificial que quer sobreviver a todo o custo. Essencialmente, um pastiche de Terminator, Knight Rider, Automan e dezenas de outras séries televisivas de recorte cyberpunk felizmente caídas em esquecimento. E sim, é cyber, é punk, é anos 80. Há óculos escuros metidos ao barulho. Cyber goes better with mirrorshades.