segunda-feira, 21 de julho de 2014

Comics


Judge Dredd Megazine #350: Confesso que apesar de ser fã do ol' stoney face e da 2000AD não tenho muita paciência para a Megazine. O universo ficcional de Dredd é divertido mas não há pachorra para as infindas variantes dos juízes justiceiros. Mas há excepções, e esta é uma delas. The Man from the Ministry é ficção científica de alto nível, misturando o secretismo institucional dos Men in Black com o retro-futurismo de Ministry of Space de Warren Ellis. Se bem que o tom é pós-austeritário, com um representante de um departamento governamental que já viu dias mais gloriosos como resquício de uma organização cuja tarefa é a defesa do reino contra ameaças alienígenas mas que ao longo dos anos não tem conseguido vencer a ameaça dos cortes financeiros burocráticos. O tom narrativo é excelente, com o argumento de Gordon Rennie a criar um mundo ficcional convincente e intrigante, enquanto o traço clássico a preto e branco de Kev Hopgood remete para o ambiente gráfico dos comics clássicos dos anos 50 e 60. Não sei porquê, isto faz-me pensar nos Quatermass Experiment.


Legenderry A Steampunk Adventure #05: Bill Willingham é exímio no trabalho derivativo, como se comprova pelo sucesso recorrente da série Fables. É isso que torna esta salganhada steampunk divertida. Deram a Willingham a tarefa de pegar nos personagens cujos direitos são agora detidos pela Dynamite e metê-los num universo ficcional coerente, e tem-se safado com isso. Não é tarefa fácil misturar Flash Gordon com The Shadow, ou colocar Red Sonja a partilhar espaços ficcionais com Vampirella. A suspensão de descrença na suspensão de descrença funciona ao criar um espaço alternativo, utilizando o alternativismo Steampunk como aglutinador. Parte do jogo está no identificar de quem é quem, e de que até que ponto o personagem continua reconhecível neste universo diferente. Para fãs do steam a ilustração é uma delícia, servindo-nos o que esperamos da iconografia do género.


Manifest Destiny #08: Esta série não parece estar a atrair muitas atenções, o que é pena. A mistura de weird western com história alternativa é muito inteligente neste recontar da viagem exploratória de Lewis e Clarke pelas vastidões americanas, aqui neste comic um espaço habitado por monstros e criaturas de fábula. Os ineptos exploradores cruzam-se constantemente com ameaças inesperadas e intrigantes habitantes habituados à sobrevivência numa terra inclemente onde os rios são habitados por batráquios carnívoros gigantes, as florestas por zombies verdejantes e as pradarias por centauros canibais.


Silver Surfer #04: Duas boas razões para ler esta nova iteração do Surfista Prateado. O bom humor do argumentista Dan Slott. O encadeamento inteligente de frases espirituosas aniquila as tentativas de criar dramatismo, mas que se dane. Comics a usar e abusar do carácter dramático é coisa que por aí abunda. O trabalho gráfico de Michael e Laura Allred, naquele impecável registo pop/retro a fazer recordar as capas garridas da era dourada dos comics.


Witchfinder: The Mysteries of Unland #02: Hellboy é o que é, caso de sucesso deixado em banho-maria para não morrer por saturação. B.P.R.D. expande-se mas arrasta-se na repetitividade. Restam este Witchfinder e Baltimore para continuar o gostinho pelo horror gótico de Mike Mignola na Dark Horse. Este Witchfinder é eminentemente anglicista e remete-nos para os ambientes ocultos de W. H. Hogdson, Shiel ou Conan Doyle no seu lado mais obscuro. Mistérios arquetípicos, segredos ocultos em aldeias inglesas, stiff upper lip e monstros do além espaço. Divertido, creepy na maneira certa, e a homenagear o terror gótico.