segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Comics


Archer & Armstrong #23: Continua cheio de fôlego este revivalismo da Valiant Comics, que soube adaptar-se com muita ironia ao momento contemporâneo. O arco narrativo sobre o poder da fama encerra com o habitual bom humor, reflexões tenebrosas sobre a manipulação comercial da necessidade de entrega a ídolos e um volte-face que implica uma tortuosa viagem no tempo onde os heróis, post facto, vão dispersar os elementos que terão de ser reunidos pelo vilão para permitir que o ritual em que se baseia a linha narrativa aconteça. Pois, labirintos mentais.


Legenderry A Steampunk Adventure #06: O divertido nesta salganhada steampunk é ver o visual dos personagens clássicos agora editados pela Dynamite com roupagens do género. Desta vez o manto recai sobre Zorro, muito palavroso mas com muito estilo neo-vitoriano fantástico. Só é pena que Willingham e Vila tenham regressado ao visual erótico-bárbaro para a Red Sonja steampunk. Nunca percebi porque é que os heróis deste género de fantasias andam sempre de armadura completa (excepto o Conan, que se dá melhor com tanguinhas), e as heroínas tenham uma vestimenta que se resume a lingerie de cota de malha. Não fazia frio nas noites da era hiboriana?


Starlight #05: Se o argumento de Millar faz uma vénia cheia de ironia à FC clássica a ilustração de Goran Parlov vai ainda mais longe. Imaginem o prototípico herói de queixo quadrado a entrar na terceira idade, reformado num anonimato inclemente com as suas histórias de aventura e glória em mundos alienígenas. E imaginem que esse herói tem uma segunda hipótese de regressar aos bons velhos tempos. A ironia é óbvia e a referência a Flash Gordon, Buck Rogers e tantos outros personagens deste género é sólida. Mas Parlov consegue subir o nível com um estilo gráfico que parece ir buscar referências a Moebius, ao anime e aos monstros clássicos do cinema de série B dos anos 50. Não será por acaso que os habitantes do planeta esmagado por um implacável império estelar que serão salvos pelo herói têm um fascínio pelas roupas, penteados, música e automóveis do estilo americana. É outra referência dos autores à inocência da golden age da FC.


Dark Ages #01: Cavaleiros medievais e monstros extraterrestres? Terei lido bem? Uma coorte de mercenários cruza-se com criaturas assassinas vindas do espaço, capazes de transformar os adversários mortos em criaturas zombie. E ainda há um mosteiro de monges com voto de silêncio que conhecem velhos pergaminhos que anunciam a chegada de algo vindo das estrelas. Ficou tudo em aberto neste primeiro número desta nova série da Dark Horse, e as perguntas são muitas. Com Dan Abnett aos comandos narrativos a aposta vai para uma história muito bem pensada de ficção científica. E I. N. J. Culbard está muito à vontade na ilustração que tem o seu quê de lovecraftiano.


Clive Barker's Next Testament #12: Termina aqui a história de Wick, o colorido demiurgo que equilibra a dualidade do bem e do mal cuja propensão para aniquilar as formigas humanas e alterar as leis da física leva ao inevitável castigo. É curioso que Barker prefira o sincretismo de colocar as forças divino-demoníacas como elementos de uma trindade de mito criador fadada a repetir os mesmos padrões ao longo dos milénios. Deuses como bots a seguir rotinas pré-programadas. A ficção de Clive Barker sempre caminhou na corda bamba entre o sublime e o patético, sendo que este Next Testament não é excepção. Mas o seu demiurgo, força divinal de cores fluídas, é uma brilhante personagem de horror metafísico.