quinta-feira, 28 de agosto de 2014

The Other Log of Phileas Fogg


Philip José Farmer (2012). The Other Log of Phileas Fogg. Londres: Titan Books.

P. J. Farmer reinventa um dos clássicos de Verne à luz do seu universo Wold Newton. Transforma a Volta ao Mundo em 80 Dias numa espécie de relato de jornalismo investigativo que alvitra hipóteses e nos conta aquilo que Verne ocultou ou não sabia sobre o que realmente se passou no périplo de Fogg. Neste universo ficcional a Terra é palco de uma luta sem quartel entre duas espécies alienígenas, ambas com objectivos de colonização benevolente para a humanidade mas que se vêem como rivais. Os cada vez mais raros sobreviventes dos colonos de Capella e Eridani interferem na história, instrumentalizando humanos como agentes dos seus jogos perigosos. Esses são os mais icónicos personagens da literatura de aventuras e fantástica dos séculos XIX e XX. Recriar as aventuras dos personagens clássicos à luz de uma guerra secular sem quartel dá motivo para muita página.

Nesta variante da volta ao mundo Fogg é um agente quase imortal eridaniano, ajudado por Passepartout, outro agente destas forças alienígenas, e a aposta que os leva a circunscrever o planeta uma desculpa conveniente para neutralizar um artefacto dos inimigos na posse de um rajá indiano rebelde. Todas as peripécias são reconstruídas face a esta premissa. A implacável perseguição de Fix é revista com este como agente capelleano, a bela viúva indiana salva das chamas que irão consumir o cadáver do rajá é outra agente eridaniana, que Fogg salva por um misto de sorte e planeamento. A atravessar-se no caminho dos aventureiros, criando obstáculos e tentando por todos os meios travar a sua viagem está o Capitão Nemo, que Farmer revê não como um rebelde indiano mas como um irlandês que se disfarça de aristocrata indiano revoltoso, que se apropriou de tecnologia capelliana para construir o seu mítico submarino, e que depois da derrota face à persistência de Fogg voltará a emergir como perigoso agente inimigo assumindo o Professor Moriarty como identidade. Como num cadavre exquis, em que linhas e cores sugerem o próximo passo da composição, Farmer vai deixando pistas para os próximos fios condutores da sua vasta narrativa de ficção alternativa.

Apesar da premissa e da vastidão de possibilidades revisionistas, o livro não é muito interessante. Talvez não seja o melhor ponto de entrada para ficar a conhecer o universo Wold Newton.