segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Comics


Letter 44 #09: Acabei de reparar num pormenor curioso. Num comic sobre uma potencial invasão alienígena da Terra que inclui uma nave espacial tripulada por cientistas e militares que se encontra na órbita de Júpiter para analisar a possível ameaça de um portentoso artefacto alienígena, ainda não nos foi dado um vislumbre dos extra-terrestres. Nove edições, e não há um etzito de ar repugante, exércitos imperiais de criaturas exóticas ou seres ultra-poderosos para além da imaginação. Houve um vislumbre de formas geométricas de alta energia, e nada mais. Nove edições, e nem um levantar do véu de algo que habitualmente se despacha nas primeiras vinhetas. É um bom artifício narrativo do argumentista Charles Soule, que com isso consegue intensificar o incógnito alienígena da ameaça. Continuamos com o revelar das intrigas do ex-presidente americano, que financiou pesquisas secretas em armamentos avançados e provocou guerras no terceiro mundo para endurecer as forças americanas para um conflito que anteveu ao perscrutar as primeiras imagens remotas do artefacto, e com as desventuras dos cientistas e militares na órbita de Júpiter, que começam a ter os primeiros recontros mortíferos com os extra-terrestres. Mas note-se que Soule, ao não nos revelar mais sobre a história, está a deixar muito em aberto o caminho que irá percorrer. Vamos pelo sentido directo de uma invasão que provocará uma guerra entre terrestres endurecidos e alienígenas de tecnologia inimaginavelmente avançada? Ou o inevitável mas muito adiado primeiro contacto irá alterar o rumo da história? O que é facto é que este comic é um dos mais interessantes do momento. Soule, note-se, também tem a cargo Swamp Thing na DC e também aí está a fazer um bom trabalho, afastando-se discreta mas metodicamente da eterna repetição do classicismo de Alan Moore, algo de muito habitual nas abordagens ao personagem.


The Manhatthan Projects #23: Dose mensal de high weirdness. Hickman em modo cuba libre com Brezjnev, monstro mutante alienígena que vai manipulando a União Soviética para espalhar a sua espécie no planeta, a invadir a Cuba revolucionária para lobotomizar Fidel Castro e Che Guevara com auxílio de um cirurgião muito exímio no transplante de cabeças. A crise dos mísseis assume toda uma nova perspectiva com mutantes extra-terrestres à mistura.


Silver Surfer #06: Há algo de profundamente clássico nesta nova série do ex-arauto de Galactus, reluzente surfista das ondas cósmicas. O estilo gráfico retro de Allred remete para a Marvel clássica, invocando a rudeza do traço de Jack Kirby e o surrealismo de Steve Ditko. Suspeito que seja mais do que coincidência, a forma como Allred desenha o Hulk de uma forma que quase replica a iconografia original de Kirby. Já as místicas formas curvilíneas com olhos a envolver o Doutor Estranho são um toque directo das histórias do personagem às mãos de Stan Lee e Ditko, marcos do psicadelismo gráfico dos anos 70.


POP #01: Suspeitamos que as estrelas da cultura pop sejam artificiais, e nesta nova série da Dark Horse são-no. Construídas por engenheiros genéticos de acordo com as especificações dos investidores, as futuras estrelas nascem em laboratório. Uma divertida, embora óbvia, mistura de FC com crítica à artificialidade induzida da cultura popular de massas. O estilo gráfico convence, a premissa é interessante, mas espero que esta história consiga sair da tradicional estrutura de boy meets girl, sendo que a girl é um clone fugido do laboratório perseguida por facínoras a soldo de executivos empresarias e o boy uma alma solitária à beira do suicídio.


Star Spangled War Stories #02: Parecia à primeira vista uma variação de Unknown Soldier, mas não. É um zombie, agente secreto ao serviço do governo americano, que acompanha uma agente que vai curar ataques de stresss pós-traumático por entre campónios armados em revolucionários com acesso a armas avançadas. Jimmy Palmiotti escreve, com uma perfeita cara de pau, algo que parte de uma premissa algo absurda e que espelha o mais intrigante iZombie. Mas no meio da seriedade consegue passar momentos de puro bom humor. Afinal, um agente secreto zombie tem as suas vantagens. Não pode ser morto, é imune a torturas. Há uma cena brilhante no primeiro número, com a companheira a cortar-lhe as mãos para ser aceite pelo perigoso grupo de revolucionários paramilitares. E, claro, comer cérebros dos vivos fica moralmente justificado como um serviço patriótico. E, claro, permite momentos como este, a caricaturar Dr. Strangelove.