sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Analog Science Fiction and Fact, December 2014


The Anomaly, por C. W. Johnson - Hard SF com preocupações sociais é o que está subjacente a este belíssimo conto que abre a Analog. Seguimos a ascensão de um intocável, membro de uma estratificada sociedade de castas em que as classes inferiores habitam os túneis das cidades, sendo autorizadas a sair dos túneis apenas para servir de mão de obra descartável nas fábricas lunares de combustível para naves espaciais. O personagem principal é um jovem curioso, que escapa aos grilhões da tradição e superstição graças à sua enorme vontade de aprender, mas que descobre que numa sociedade inclemente, dominada por forças inflexíveis, não há escape possível às suas raízes. Mas não é por isso que deixa de tentar.

Dino Mate, por Rosemary Claire Smith - revisita as viagens no tempo numa perspectiva que deve muito a Ray Bradbury. A ida ao passado permite descobrir os hábitos de acasalamento de dinossauros. Um conto simples, optimista e luminoso. Coisa rara, nos tempos que correm.

Citizen of the Galaxy, por Evan Dicken - talvez o mais fraco dos textos desta edição da Analog. O tema prende-se com ditaduras benevolentes e as mudanças culturais trazidas pelo contacto entre culturas, mas anda às voltas do problema das identidades impostas por forças externas para o resolver com uma suave cedência.

Mammals, por David D. Levine - um conto de forte ironia. As inteligências artificiais que conquistaram o planeta e provocaram a extinção do homem estão a ser extintas sem saber como. A resposta está nas forças evolucionárias, e nas formas de vida que evoluíram a partir das espécies sobreviventes da hecatombe provocada pelas IAs. Seres que roem as cablagens eléctricas de que as IAs dependem para sobreviver. Uma curiosa reflexão sobre pressupostos evolucionários e os erros de esquecermos a base do que somos. Note-se que os mais poderosos sistemas digitais não sobrevivem sem os humildes cabos eléctricos.

Probability Zero: All Too Human, por  Paul Carlson - a secção de especulação irónica da Analog propõe-nos este mês imaginar o que aconteceria se todas as teorias da conspiração com antigos alienígenas, homens-lagarto e tenebrosas sociedades secretas a puxar os cordelinhos do mundo fossem reais, e recaísse nos ombros de um dos poucos homo sapiens puros a responsabilidade de representar o planeta.

Saboteur, por Ken Liu - um bom conto, que se debruça sobre as problemáticas laborais trazidas pela automação. O toque moralista com que termina consegue estragar o ambiente de reflexão estabelecido ao longo das páginas.

Twist of Coil, por Miki Dare - este é o segundo conto da Analog deste mês que olha para os dilemas trazidos pela pobreza, sociedade de castas e superstição. Neste, uma jovem é obrigada a sacrificar tudo a deuses longínquos para que haja uma possibilidade de salvar o irmão de uma doença fatal. Quase diria que a Analog está timidamente a tomar uma posição sobre o impacto das desigualdades, mas não me atrevo a tanto.

Racing the Tide, por Craig DeLancey - toque de Climate Fiction, com os desafios trazidos pela subida do nível das águas do mar para as comunidades costeiras que, apesar do iminente alagar das suas casas, querem manter os antigos modos de vida. Esta linha narrativa cruza-se com os impactos negativos de método de alteração cerebral sobre o cérebro, que obrigará uma mãe a vender a alma para pagar tratamentos experimentais ao seu filho.

Humans First!, por  Kyle Kirkland - outro conto a olhar para impactos sociais das tecnologias de automação e inteligência artificial. Um técnico de manutenção de sensores dotados de inteligência artificial vê-se no meio de uma guerra entre defensores da humanidade e activistas ecológicos, ambos a usar meios violentos para atingir os seus objectivos. Isto numa sociedade dependente de decisões baseadas em algoritmos computacionais, baseada numa rede de sensores cujas inteligências artificiais locais não são muito inteligentes mas começam mostrar sintomas de interconexão e inteligência distribuída. Conceitos interessantes, mas a história oscila entre um whodoneit e infodumps que no final se tornam atabalhoados.