sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Dedo no ar!


Dedo no ar quem também sempre sentiu que O Senhor dos Anéis é uma história com o seu quê de retrógrado e anti-moderno, uma elegia e elogio aos valores aristocráticos e ao ruralismo de uma pretensa era dourada destruída pelos fogos iníquos da indústria e progresso? Não é uma interpretação nova, e costuma deixar arrepiados os fãs do fantástico de Tolkien, mas é  uma que partilho. Sempre tive a sensação que se vivesse na terra média, seria um goblin a inventar mecanismos nos poços industriais de Isengard. Foi nessa passagem da trilogia que senti pela primeira vez a defesa, consciente ou não, que Tolkien faz de um ancien régime nostalgista num mundo irremediavelmente transformado pelo progresso industrial. Ou, pondo a questão de outra forma, e que tal ver os altivos elfos como capitalistas latifundiários que vão dispensando alguma caridadezinha por entre os que lhe são submissos e as hordes de orcs como proletários grevistas em busca de condições de vida mais digna?

Bem visto, Sr. Moorcock, e é imperdoável que depois de mais uma elegia destas eu ainda não tenha lido Mervyn Peake.