segunda-feira, 9 de março de 2015

Comics


Descender #01: Que Jeff Lemire dá cartas na ficção científica já se tinha percebido com o excepcional e experimental Trillium para a DC/Vertigo. Agora na Image lança esta ambiciosa space opera misturando o clássico império estelar ameaçado por forças incompreensíveis com uns laivos de temor robótico com o seu quê de Supertoys Last All Summer Long de Aldiss e Dune (cujo mundo ficcional, recordem-se, envolveu uma revolta contra a tecnologia de inteligência artificial). A tela é grande e o argumentista ambicioso. Depois desta, tenho de dar o braço a torçer: o melhor da FC contemporênea encontra-se não no cinema ou na literatura, mas na banda desenhada, que consegue aliar o vanguardismo dos conceitos literários à espectacularidade visual.


The Names #07: Torna-se notório que Pete Milligan anda a despachar o policial procedimental que forma uma das vertentes da série. Porque, compreende-se, mais uma história de homicídio e vingança é algo de muito corriqueiro. E as outras linhas narrativas são mais interessantes. A élite de financeiros habitualmente ocupada a maximizar lucros a qualquer custo que se vê forçada a combater inteligências artificiais predadoras que lançam ataques aleatórios sobre a economia é indubitavelmente mais intrigante. E verdadeiramente interessante é a premissa das inteligências artificiais em si, talvez traduzivel por uma quase autista personagem da série. É este o elemento-charneira que Milligan está, finalmente, a aprofundar, depois das habituais tropelias de violência homicida.


Nameless #02:Bolas, pensei quando me apercebi que não dei pelo tempo que demorei a ler este segundo Nameless. Grant Morrison está num auge da sua capacidade narrativa nesta série. O ritmo é fortíssimo, e o menu conceptual de uma diversidade alucinante. Ultra-bilionários que se aliam para estimular a exploração espacial para salvar o planeta de um cometa, que se revela ser um fragmento de um antigo planeta do sistema solar aniquilado no passado remoto, cuja superfície encerra hieroglifos enoquianos, com a queda dos anjos nos infernos revista como um conflito galáctico? Drones de telepresença, bases lunares, artefactos alienígenas, possessões e no meio deste turbilhão um ocultista mal humorado. Fora dos espartilhos das editoras mais mainstream Morrison vai constantemente além dos limites.


Swamp Thing #40: A culpa disto é do Alan Moore, que reviu o Monstro do Pântano como avatar da força elementar do verde. Charles Soule tem abusado muito bem do conceito, criando um avatar para a consciência digital que tem nesta edição um final irónico do arco narrativo do seu surgimento. Digamos que depois de perder o confronto com o Monstro do Pântano acaba aprisionada num aibo para aprender e ganhar maturidade. Soule não se ficou por aqui e decidiu dar protagonismo ao mundo das ideias, a encarnação da força natural da criatividade representada pela palavra. Belíssimo conceito, com o seu quê de Borgesiano, a recordar a inflexão literária que Moore também introduziu nas aventuras do personagem.