quarta-feira, 15 de abril de 2015

A Arte de Voar


Antonio Altarriba, Kim (2015). A Arte de Voar. Oeiras: Levoir.

É impossível dissociar este livro de Maus de Art Spiegelman. Ambos são respostas de filhos perante a pesada herança traumática de pais cujas vidas foram profundamente transformadas pela guerra. Spiegelman exorcizou brilhantemente as memórias do Holocausto. Altarriba vira-se para o prelúdio da II Guerra que foi a sangrenta guerra civil espanhola através da história do seu pai. Tal como em Maus, é o suicídio que irá despertar a jornada pelas cicatrizes da história na alma humana.

A Arte de Voar centra-se no pai de Altarriba, cujo suicídio leva o filho numa viagem pela sua história pessoal. Veterano do lado derrotado na guerra civil espanhola, a sua vida é uma sucessão de falhanços. Primeiro pelas injustiças económicas, depois pelas manobras políticas e derrota republicana. Seguem-se os anos de amargo exílio em França, com passagens por campos de concentração, Resistência e submundo criminal marselhês, e o regresso humilde à Espanha franquista, este sim um outro exílio para um rebelde libertário forçado a viver sob uma ditadura fascista. A vida pessoal tem o seu quê de sucessão de desaires, e tudo culmina num suicídio que é o acto final de libertação de um indivíduo esmagado pela história e pela incapacidade de se adaptar à bonomia dos sistemas.

Onde Spiegelman é brilhante, e Altarriba falha, é no interligar da história de vida com as histórias da história. Se o relato de experiências na guerra civil e exílio francês é interessante, o resto do livro fica-se pela banal autobiografia com o seu quê de sentimentalista. Pretende ser uma análise do impacto da guerra civil na vida de um espanhol, mas acaba por ser uma sucessão de peripécias deprimentes que incluem uma passagem pela guerra civil.