terça-feira, 17 de novembro de 2015

Abaddon's Gate

 
James S. A. Corey (2013). Abaddon's Gate. Nova Iorque: Orbit.

Confesso que não esperava que o grande mistério da série fosse resolvido tão cedo. Habitualmente são mantidos até à exaustão, como incentivo a que a curiosidade do leitor se mantenha viva, acompanhando as peripécias da série enquanto mantém no horizonte a sua possível resolução. Os autores optaram por um outro caminho, encerrando neste terceiro livro a questão do que, exactamente, é o organismo viral alienígena descoberto numa lua de Júpiter, bio-arma que ergueu estranhas estruturas em Vénus e se projectou aos limites do sistema solar, onde criou um gigantesco anel que parece violar a estrutura relativista do espaço-tempo.

Encerra esta linha narrativa abrindo outra, mais expansiva e prometedora. Afinal, há um limite no interesse em argumentos que, apesar de bem construídos, replicam sempre o mesmo tipo de conspiração e o deste terceiro livro da série volta a ir buscar os mesmos temas. Se bem que a intricada e nalguns momentos especialmente eficazes aparentemente impossível de desmontar envolve agora a filha do grande vilão do livro anterior, que leva a cabo uma complexa e bizantina conspiração para esmagar a imagem do comandante Holden e dos seus companheiros da nave Rocinante. Tudo isto com expedições das facções divididas da humanidade ao artefacto anelar nos confins do sistema, cujo mistério do seu interior é desbravado por um Holden em fuga desesperada. No seu interior, outros mistérios: uma base alienígena automatizada, aguardando o regresso de civilizações há muito extintas, uma inteligência artificial extra-terrestre que assume a personalidade do detective Miller, personagem-chave do primeiro livro da série, e as portas de outros sistemas solares abrem-se à humanidade graças à combinação entre o anel e a estação espacial alienígena.

Mas antes, há que travar os tremendos desafios a curto prazo das intrigas palacianas e rivalidades entre as várias facções humanas. Reside ai a aventura imparável do livro, cheia de volteios e contra-volteios que levam aos limites as capacidades dos personagens e eliminam alguns que julgávamos parte integrante da narrativa. Os autores são mestres na narrativa empolgante, fragmentada mas sempre interligada com muito suspense. Aliás, se há algo que tem caracterizado estes livros da série Expanse, é que são uma leitura imparável, daquela que nos agarra, queima pestanas, e nos mantém acordados pela noite dentro, incapazes de parar e sempre a querer avançar mais um capítulo para saciar a curiosidade. Tenho as olheiras e os dias pastelentos após noites demasiado curtas para o provar.

A série está em aberto, pronta a entrar num novo campo. Devo confessar que as séries literárias de FC me deixam sempre de pé atrás, como lado mais comercial do género. Mas estou rendido à mistura exímia de boa escrita pop, space opera e military SF da série Expanse. Venha o próximo. Vou só reforçar as doses de cafeína.