sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Visões



Tombs of the Blind Dead (Armando Ossorio, 1972)

Sinto-me incerto em perceber se ver este clássico do cinema fantástico de qualidade duvidosa foi uma experiência penosa ou divertida. Na verdade, este filme de Armando Ossorio tem alguns momentos verdadeiramente creepy, mas no geral é uma típica experiência de cinema exploitation. Promessas bombásticas, premissas assustadoras, e um tédio de desenvolvimento narrativo. A história é linear mas desconexa nas ramificações. No meio da confusão entre lendas, contrabandistas, uma jovem vítima que se chateia com a amiga lésbia e o seu marido e acaba como zombie vampírica, outros personagens que vão aparecendo em cena, o filme lega-nos algumas cenas memoráveis. Como uma sala de autópsia com cadáveres iluminados por uma luz pendular, ou uma zombie a ser queimada viva... ou morta... ou viva-morta num armazém de manequins de plástico. A premissa do filme assenta numa maldição imposta a templários que assombram um mosteiro em ruínas na raia portuguesa. Restam os monstros, templários sedentos de sangue, mortos-vivos aterrorizadores nos seus capuzes que ocultam rostos mumificados com barbicha e mãos esqueléticas com força suficiente para arrastar as pedras tumulares e empunhar espadas centenárias. Lentos e cegos, não seriam particularmente eficazes senão pela inépcia das suas vítimas que gritam e estrebucham enquanto se deixam sugar em momentos estranhamente orgásmicos. Esta inépcia é outra das características do filme, que desenrola os momentos de maior tensão com tanta lentidão que daria tempo às vítimas de serem assustadas, ir tomar um refresco e voltar a tempo de serem devoradas pelos monstros. Oscilando entre o maçador, o absurdo e o assustador, como tantos outros filmes deste género, destaca-se ainda por ter sido filmado em Portugal, numa co-produção luso-hispânica que trouxe os actores (terrivelmente canastrões, note-se) ao Estoril e Cascais. O melhor do filme são os inesquecíveis e arrepiantes templários amaldiçoados.