quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Ye cold advisers of yet colder kings


Ye cold advisers of yet colder kings,
To whose fell breast no passion virtue brings
Who scheme, regardless of the poor man’s pang,
Who coolly sharpen misery’s sharpest fang,
Yourselves secure.
Isto aplica-se tão bem aos dias de hoje, pensei, dias em que analistas de rosto intercambiável se afadigam a demonstrar por a mais b e dois menos dois o quão danoso, trágico, destrutivo, apocalíptico é pagar salários dignos, manter direitos sociais, dinamizar serviços de saúde com qualidade para todos, enfim, precarizando, revertendo as condições sociais aos níveis vitorianos (que, ao contrário do que lêem nos livros steampunk, não eram tempos românticos de liberdade próspera para todos), tudo em nome de mercados, contenções e uso responsável de dinheiros públicos que no final do dia, contas feitas, parece beneficiar apenas aqueles que mais teriam a beneficiar com a reversão, precarização e empobrecimento generalizado. Meras coincidências, certamente.

As palavras são de Shelley, num dos seus primeiros poemas recentemente redescoberto na Bodleian Library de Oxford. Esse Shelley, que por se ter atrevido a escrever este poema tão descaradamente pacifista nos dias em que o reino inglês se atirava à jugular napoleónica, terá acabado expulso de Oxford. E o resto, como bem sabemos, é história, uma história do romantismo classicista que pelo meio meteu a dark and stormy night. O poema fala do horror da guerra, mas aplica-se como uma luva nestes dias de terrorismo económico-ideológico que obriga os moderados a radicalizar-se para tentar proteger o bem comum. Descoberta na leitura matinal dos feeds rss, boa surpresa por entre a torrente informacional de blogs e sites noticiosos que acompanham a caneca de café para despertar os neurónios.