quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Rise of the Machines: A Cybernetic History



Thomas Rid (2016). Rise of the Machines: A Cybernetic History. Nova Iorque: W.W. Norton and Company

O que é que queremos dizer quando afixamos o prefixo ciber a qualquer conceito? Cibernético, ciberespaço, ciberguerra, cyborg, cyberpunk. São termos que nos rodeiam num dia a dia contemporâneo, dependente de tecnologias digitais. Neste livro, Thomas Rid leva-nos numa viagem à descoberta da origem deste termo, mostrando como está intimamente relacionado com uma ideia muito específica de simbiose entre homem e máquina, intuída nos conceitos invocados por este termo.

A história começa na II Guerra Mundial, quando o matemático Norman Wiener, às voltas com o problema de controlo de fogo anti-aéreo, se fascina com as possibilidades de sistemas que conjuguem automatização computorizada e o homem. Criou o termo cibernética, definido como o controle automatizado de sistemas. O conceito alastrou numa época em que forma dados os primeiros passos do que viria a ser o nosso moderno mundo digital, com o desenvolvimento das arquitecturas e tecnologias de computação. A visão futurista de mescla homem-máquina passou do campo da investigação aplicada para a psicologia popular, e daí para a contra-cultura dos anos 60, numa mistura curiosa de químicos alucinogénicos e filosofias de transcendência dos limites humanos através da tecnologia digital. William Gibson leva o conceito para a literatura de ficção científica, deixando a marca indelével do seu conceito de ciberespaço como alucinação consensual mediada por computador. Outros escritores de FC mostram-se influentes neste campo, como a visão de mundos virtuais por Vernor Vinge em True Names que inspira as experiências de incipiente realidade virtual, ao mesmo tempo que confluem tecnologias de simbiose homem-máquina militares, especulações trans e pós-humanistas de índole académica, e crescimento do uso de computadores e da então nascente internet. Rid ainda nos fala do fenómeno cypherpunk, quando a matemática se tornou uma arma controlada devido ao poder dos algoritmos de encriptação, e das guerras entre activistas e governos para levantar restrições a esta tecnologia. Termina com o fascínio militar pelo conceito, com as ideias sobre guerra no ciberespaço e análises ao potencial de ataques digitais aos sistemas informáticos que se tornaram a estrutura da nossa sociedade.

O autor resiste à tentação de nos dar um quadro único, mostrando que o conceito, bem como a forma como o entendemos, evoluiu a par com as tecnologias e os seus impactos na sociedade. Mais do que uma ideia estanque, o cyber aplica-se às míriades de vertentes onde o controle humano se mescla com capacidades aumentativas tecnológicas. Quer sejam os velhos sonhos de cyborgs, que a tecnologia médica parece trazer cada vez mais próximo do banal, quer os sistemas complexos civis e militares que pervadem o mundo contemporâneo, e de uma forma especialmente individual a extensão para geografias electrónicas dos espaços onde cada um de nós se move, age e intervém.