quarta-feira, 16 de novembro de 2016

The Last Call of Mourning



Charles L. Grant (1988). The Last Call of Mourning. Nova Iorque: TOR Books.

Apanhei Charles L. Grant após um artigo na Lovecraft Magazine que comparava este autor a Ray Bradbury. Demorei a perceber porquê. Num aspecto, a similaridade era óbvia. Grant também partilhava daquele olhar entre o naturalista, o nostálgico e o fantasista sobre a mitografia da small town americana, que Bradbury tão bem sabia explorar. Mas falta-lhe a leveza de linguagem. Tão absorvido fica pelas idiossincrasias das personagens caricaturais que a história passa demasiadas vezes para segundo plano. De tal forma que quando se desenrola o novelo e a história, com aquele volteio final tão típico da ficção clássica de terror, nos surpreende é já um pouco tarde demais para nos agarrar ao livro.

Regressada do seu grand tour pela Europa, a jovem herdeira de uma família venerável de uma pequena cidade da Nova Inglaterra sente que algo não vai bem. Procura-se a si própria, tentando descobrir-se, e funda um pequeno negócio para escapar ao destino expectável de jovem herdeira de família decadente. Mas este não é um romance sobre auto-descobertas de personalidade. Há mesmo algo que não está bem com a sua família. O mistério - aviso, big spoiler, mas dificilmente irão ler este livro, envolve um médico misterioso, que também domina artes arcanas, que se financia transformando os seus pacientes numa espécie de zombies. Mata-os, mas anima-os com vida e uma parte da sua personalidade pessoal. O final é puro terror clássico, com a jovem herdeira a aperceber-se que viveu seis meses junto de mortos vivos, e que até o seu eterno pretendente na terra talvez também seja um morto-vivo.

Não sendo um livro extraordinário, tem um elemento curioso. Algo na ambiência evocada perdura após a leitura, apesar de um estilo que não agarra muito quem lê. Neste aspecto, no deixar algo das icongrafias literárias na mente do leitor, a comparação com Bradbury também é válida.