domingo, 16 de abril de 2017

Visões



Ghost in the Shell (Rupert Sanders, 2017)

A herança de um mangá marcante. Uma história interessante, que pega nos conceitos elementares das histórias originais e lhes dá uma nova aventura. Uma estética assombrosa, a repescar a visão clássica dos anos 90 do século passado sobre o futurismo digital. Estética essa que não se perde nos efeitos especiais digitais e mecatrónicos que lhe fazem jus. Personagens interessantes, actores de renome, e aquele fetichismo ocidental sobre o Japão.  

 
Ghost in the Shell tinha tudo para se tornar um excelente filme, fazendo o cyberpunk old school regressar à memória visual colectiva contemporânea. Mas falha, vítima de um trabalho de realização desconexo, que opta por um misto de técnica de telenovela com mau filme de acção. Infelizmente, na arte do cinema, a realização é o fio que une todos os elementos. Por excelentes que sejam, e este filme tem elementos assombrosos, se a união é desconexa o filme falha. Cenas de acção cansativas, momentos dramáticos que não conseguem transmitir os dramas dos personagens, diálogos filmados a estragar a continuidade, as mesmas cenas filmadas de três ou quatro ângulos diferentes mostrados em justaposição.


Esta antevisão dos primeiros cinco minutos do filme mostra bem as suas falhas e pontos fortes: estética impecável, uma acção frenética fragmentada em mútiplos planos desconexos que não valorizam a intricada coreografia da cena.

O que estraga o filme não é o whitewashing de Scarlett Johanssen como protagonista (e diga-se que esta actriz corre sérios riscos de se tornar uma diva de cinema de FC). O filme afunda-se na inépcia do realizador. Aliás, inépcia não diria, apenas baixa capacidade narrativa. Pegaram em alguém mais capaz de telenovelas ou filmes de acção pipoca e metem-lhe este material nas mãos, que claramente não compreende, e revê como filme de acção pipoca com planos de efeitos especiais que servem só para mostrar as capacidades dos efeitos especiais. Quem conhece o mangá sabe que Ghost in the Shell é mais do que isso, quem não o conhece, espero que se arrisque a ler o original e Man-Machine Interface para perceber porque é que valeu a pena ver este filme. Não, não só pelos efeitos, é por toda a imersão nesta distopia cyberpunk, apesar do péssimo trabalho de realização.